Cidade para/com Crianças: “conhecer o mundo através dos vidros dos carros”
O Bloco de Esquerda organizou, no passado sábado, dia 25 de janeiro, na Biblioteca Municipal Rocha Peixoto, a iniciativa “Cidade para/com Crianças”, uma conversa sobre como tornar a cidade mais inclusiva, saudável, segura e participativa para as crianças, desde os seus espaços urbanos até às suas políticas públicas.
Manuel Sarmento, diretor do Programa de Mestrado em Estudos da Criança e do Departamento de Ciências Sociais da Educação da Universidade do Minho, explicou que a liberdade de movimento e a experiência direta com a cidade ampliam as oportunidades de autoconhecimento das crianças. A transformação das cidades em espaços mais humanizados, com foco na mobilidade a pé, deve ser uma prioridade para garantir que as crianças não conheçam o mundo apenas através dos vidros dos carros, numa triangulação entre casa, escola e atividade extracurricular. Segundo o especialista, a limitação da autonomia de mobilidade das crianças tem efeitos negativos significativos: reduz o conhecimento do espaço urbano e a experiência direta com ele, prejudica a saúde física (aumentando a obesidade e doenças relacionadas ao sedentarismo), limita a interação intergeracional (afastando crianças e idosos das ruas), e agrava a fragmentação da experiência urbana, dificultando a participação das crianças na vida pública e social.
Para Manuel Sarmento, as crianças devem ser ouvidas, mas é essencial que obtenham respostas às suas questões. Porque, afinal, as crianças possuem competências políticas, mesmo que as suas ações políticas ocorram principalmente em interações com outros pares, em contextos de vida cotidianos e fora da observação adulta. Elas demonstram habilidades como cooperação, competição, formação de alianças, resistência, negociação e defesa de interesses.