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Bloco organizou conversa sobre "Cidade para/com Crianças"

Cidade para/com Crianças: “conhecer o mundo através dos vidros dos carros”

O Bloco de Esquerda organizou, no passado sábado, dia 25 de janeiro, na Biblioteca Municipal Rocha Peixoto, a iniciativa “Cidade para/com Crianças”, uma conversa sobre como tornar a cidade mais inclusiva, saudável, segura e participativa para as crianças, desde os seus espaços urbanos até às suas políticas públicas.

Manuel Sarmento, diretor do Programa de Mestrado em Estudos da Criança e do Departamento de Ciências Sociais da Educação da Universidade do Minho, explicou que a liberdade de movimento e a experiência direta com a cidade ampliam as oportunidades de autoconhecimento das crianças. A transformação das cidades em espaços mais humanizados, com foco na mobilidade a pé, deve ser uma prioridade para garantir que as crianças não conheçam o mundo apenas através dos vidros dos carros, numa triangulação entre casa, escola e atividade extracurricular. Segundo o especialista, a limitação da autonomia de mobilidade das crianças tem efeitos negativos significativos: reduz o conhecimento do espaço urbano e a experiência direta com ele, prejudica a saúde física (aumentando a obesidade e doenças relacionadas ao sedentarismo), limita a interação intergeracional (afastando crianças e idosos das ruas), e agrava a fragmentação da experiência urbana, dificultando a participação das crianças na vida pública e social.

Para Manuel Sarmento, as crianças devem ser ouvidas, mas é essencial que obtenham respostas às suas questões. Porque, afinal, as crianças possuem competências políticas, mesmo que as suas ações políticas ocorram principalmente em interações com outros pares, em contextos de vida cotidianos e fora da observação adulta. Elas demonstram habilidades como cooperação, competição, formação de alianças, resistência, negociação e defesa de interesses.

Catarina Grande é professora associada de Psicologia em ciclos de pré/pós-graduação na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto e membro integrado do Centro de Psicologia da Universidade do Porto. Considera que o desenvolvimento urbano vem criando cidades com áreas exclusivas e de exclusão e, muitas vezes, estas encontram-se lado a lado. Por vezes, junto a um condomínio fechado de luxo existe um bairro social, o que traz impactos negativos às crianças limitando-lhes o acesso a espaços urbanos adequados, resultando em segregação e privação de oportunidades.

Andreia Teixeira é responsável pelo Clube de Expressão Dramática AverTeatro do Agrupamento de Escolas de Aver-o-Mar e considera que a arte tem um papel fundamental na integração social, transcendendo barreiras culturais, linguísticas e sociais, promovendo o diálogo, a empatia e o entendimento entre diferentes grupos. A assistente social explicou que este projeto inclui toda a comunidade educativa (alunos, pais, professores, assistentes operacionais e técnicos) e que os estabelecimentos educativos que compõem o Agrupamento ganharam uma nova vivência através da arte. Em Aver-o-Mar, atualmente, estudam crianças e jovens de 27 nacionalidades. Apesar dos prémios que o Agrupamento tem recebido pelo trabalho desenvolvido no acolhimento e integração destes/as alunos/as e ser uma referência na inclusão social, o seu diretor, Carlos Gomes de Sá, afirmou que, no fundo, trata-se de uma tarefa simples: receber bem os/as alunos/as e as suas famílias, encaminhando-as para os locais corretos consoante as suas necessidades e promovendo a interculturalidade.

O Agrupamento de Aver-o-Mar impulsiona diversos clubes, como História, Teatro, Comunicação, Robótica, Desporto ou Artes. Para Carlos Gomes de Sá, esta aprendizagem dá espaço à experimentação, fomenta a criatividade e o desenvolvimento pessoal. É uma complementaridade mais prática, colaborativa e personalizada ao ensino tradicional que tem motivado os/as estudantes a aprender mais sobre cada um dos temas em que se envolvem.

Sara Cortesão, aluna do 8º ano na Escola Básica de Aver-o-Mar, partilhou que, muitas vezes, os adultos perguntam a opinião das crianças, mas depois nada acontece. Questionou as pessoas do público se se lembravam da infância e de quererem ser ouvidas e levadas a sério, sublinhando: “nós só queremos o mesmo que vocês queriam”.

A moderação da conversa “Cidade para/com Crianças” foi da responsabilidade de Sara Miguel, psicóloga e co-fundadora da cooperativa Ser Natureza, um projeto educativo que promove o bem-estar através da integração da natureza e dos animais.