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Em quem se centra o Centro do Clima?

Foi com consternação, mas não com estranheza, que o Bloco de Esquerda recebeu a notícia do despedimento de Pedro Macedo, diretor executivo do Centro do Clima da Póvoa de Varzim. Porque as ações climáticas devem transcender fronteiras políticas, o Bloco acompanha diligentemente o trabalho desenvolvido pelo Centro do Clima desde a sua criação. E 18 meses foram suficientes para a equipa que o — ou compunha — alcançasse local, regional e, depois, nacionalmente o reconhecimento merecido. Desde logo, por fomentarem a participação dos cidadãos e cidadãs da Póvoa de Varzim na procura de soluções, na partilha de conhecimentos e experiências: uma verdadeira lição de cidadania em Democracia.

O dinamismo do Centro do Clima, o trabalho em rede, os financiamentos recebidos para dar continuidade a um trabalho que, em pouco tempo, se destacou no país, trouxeram resultados significativos à Póvoa de Varzim. Um desses financiamentos irá contribuir com 1,2 milhões de euros para a gestão de riscos climáticos e prevenção de cheias que terá como área prioritária o Rio Alto, onde estão situados campos hortícolas e onde o Bloco se tem empenhado em solucionar o problema relacionado com a erosão costeira. Outro exemplo, que agora é colocado em causa, é o plano de ação climática, que pela primeira vez no nosso município, um plano de notável importância para o futuro do concelho, foi aberto à participação de entidades e cidadãos/as, através da realização de uma assembleia cidadã.

No entanto, e apesar do impacto positivo do Centro do Clima no concelho, em apenas um ano e meio de trabalho o seu diretor executivo foi exonerado das suas funções. O Bloco reitera o seu desalento com este afastamento forçado, alegadamente provocado por “um conjunto de incompatibilidades” — nas palavras da Vereadora do Ambiente e presidente do Conselho Diretivo da Póvoa em Transição - Associação pelo Clima, Sílvia Costa. Esta situação, lamentável, dá aso que organizações políticas retrógradas e negacionistas usem este episódio para descredibilizar ainda mais o trabalho realizado em prol do clima e da ecologia arrasando publicamente o Centro do Clima, a sua constituição e o seu desempenho ao longo deste ano e meio.

Além de tudo isto, segue-se ainda uma gravíssima acusação de censura pela recusa de da vereadora do ambiente, Sílvia Costa, de publicar nas redes do Centro do Clima e da Câmara um vídeo realizado pelo’s Jovens pelo Clima em dezembro de 2024, numa iniciativa promovida pelo Centro do Clima da Póvoa de Varzim e dinamizada pela associação Pathos — conforme se pode ler na edição de 9 de janeiro do Jornal de Notícias.

O Bloco não pode deixar de questionar que incompatibilidades são estas que não puderam ser ultrapassadas, tendo em conta o trabalho tão meritório realizado por Pedro Macedo enquanto diretor executivo do Centro do Clima. Uma simples crítica ambiental ao excesso de luzes natalícias nas cidades (sem especificar sequer a Póvoa de Varzim) chega para funcionar como rastilho para mais um ato bafiento perpetrado por membros deste executivo municipal, que liderado pelo PSD desde 1989, apenas fez o que faz sempre. Um funcionário, cidadão, ativista, tem ideias próprias e é movido pelos seus valores e tem que ser afastado e silenciado. Movidos pelo protagonismo e pelo poder, o presidente da Câmara e os/as vereadores/as não toleram quem lhes tirem os holofotes e quem os questione (um sintoma de insegurança crónica que supera qualquer compromisso com a eficiência, a inovação e o serviço público), o Centro do Clima estava a ter um papel fundamental em colocar a Póvoa de Varzim no mapa dos bons exemplos de combate às alterações climáticas, algo que consideramos nunca tinha existido antes da chegada da equipa liderada por Pedro Macedo. O despedimento de Pedro Macedo arrasa ativamente e deliberadamente todo o trabalho realizado na luta contra as alterações climáticas e abre ainda uma porta para que, internamente, haja promiscuidade e absoluta infiltração do poder camarário no trabalho do Centro do Clima pondo em causa a sua independência. Assim, o Bloco entende que a vereadora do ambiente, Sílvia Costa, não tem condições para continuar a desempenhar o seu papel neste executivo e exigimos a sua demissão.

Este executivo não promove uma cultura de excelência nem trabalha para o bem comum. Este executivo fomenta um modelo arcaico de governança, alimentados pelo conforto da cadeira do poder onde se sentam ininterruptamente desde 1989, e os seus vereadores/as e confundem maioria absoluto, com poder absoluto. Havendo Eleições Autárquicas daqui a alguns meses, e estando Aires Pereira de saída, ao Bloco parece, no mínimo, questionável que este despedimento tenha ocorrido agora e exige, portanto, uma explicação mais detalhada quanto aos motivos que levaram a este desfecho. Por agora, continuará a julgar esta atitude como mais um episódio de hostilidade e de procura de preservação de total protagonismo interno, por parte de uma liderança demasiado obcecada com aparências e totalmente despreocupada com o bem-estar da comunidade poveira e a tão necessária eficiência do serviço público — algo a que já nos habituamos mas com o qual não nos conformamos.

Consideramos que o futuro do Centro do Clima está lamentavelmente ameaçado, assim como todos os projetos, que estavam em curso e isso tem responsáveis. O Bloco está solidário com antigo diretor executivo do Centro do Clima, Pedro Macedo, e com a restante equipa do Centro do Clima, tendo questionado o executivo municipal sobre esta matéria de forma a apurar toda a verdade sobre o sucedido. Ademais, zelando pelo autónomo, independente e isento funcionamento do Centro, denunciamos a conduta da vereadora do Ambiente Sílvia Costa — que acumula também a posição de presidente do Conselho Diretivo do Póvoa em Transição —, exigindo a sua demissão. Assim, deixamos um compromisso: o Bloco não deixará de lutar pela Justiça e Transição Climática